quinta-feira, 7 de julho de 2011

Quando no elevador

Relatos sobre as intervenção no elevador - espaço íntimo, confiança?

Inicialmente, para as intervenções nos elevadores, selecionamos alguns edificios no centro da cidade conforme sua localização, os aspectos histórico e os frequentadores. No entanto, foi preciso alterar as escolhas iniciais e sairmos a “cata” de edificios que tivesse alguma fissura em sua segunça. Antes de entrar em um prédio, praticamos uma espécie de devira não programada.

Duas situações emolduraram a ação do elevador. Uma delas foi a necessidade de driblar os homens-seguranças plantados nas recepções dos edificios. Os seguranças averiguavam as entradas e acompanhavam, através de monitores, todos os movimentos no interior do elevador. Esta situação gerou a sensação de clandestinidade a cada tentativa de entrar nos edificios. A presença das câmeras de segurança, faz perceber uma precária privacidade nostalgica. Neste caso, experiênciar a “atmosfera” de intimidade, de confiança ou confidência em um elevador – que, por sua dimensão exige a proximidade de corpos - teve paradoxos interessantes: o que seria vivência, amplia-se e se altera porque o encontro ultrapassa seu território real – elevador - e se multiplica em imagens monitoradas por outros.

Quanto as confidências pessoais a serem propostas: escolhi confidenciar uma situação de infância em que minha mãe costuvava dizer que eu não era sua filha. As reações foram muito parecidas e se limitavam a lamentar a minha história e me olhar com compaixão. Apenas uma mulher, muito sóbria e silenciosa faz o seguinte comentário (irado e ressentido) ao sair do elevador: “É, isso acontece. A minha dizia que eu era filha de um louco que frequentava a vizinhança”.

Quando a pergunta era Você já mentiu para o imposto de renda? A maioria fugia do assunto ou apresentava um risada dissimulada, as vezes jocosa. Como se o assunto fosse engraçado e sacana. Uma senhora com vários papeis nas mãos respondeu categoricamente: eu acho que não minto mas entrego tudo para o meu contador. E um outro senhor, já de bastante idade, esclareceu: claro que eu minto, você não? - me perguntou. Nesta ocasião usei o argumento da senhora: eu entrego tudo pro contador. Em seguindo, silêncio.

De noite a frase de abordade fora: Você já roubou o namorado de alguém?

Ação realizada: Com um pacote de bombons nas mão, no momento que me parecia propício, lançava a frase combinada anteriormente.

Uma situação e uma cumplicidade

1- elevador vazio entra um homem de meia-idade

2-ele observa os bombons em minhas mãos

3- faço a pergunta: você já roubou o namorado de alguém?, dando a entender que me encontraria com alguém em poucos minutos.

4- ele me ouve e me devolve a pergunta: E você, ja roubou a namorada de alguém?

5-fico desconcertada, acho que ele confundiu o gênero, me confundiu? Me perco. Mas ele insiste e antes de tentar lhe responder alguma coisa o elevador para e entram várias pessoas.

6- silêncio entre nós dois e um vinculo invisível nos une através de olhares.

7- o elevador se esvazia outra vez e nós permanecemos.

8- ele retoma a pergunta em silêncio.

9- eu respondo: sim eu já roubei a namorada de um amigo e você?

10- ele responde: sim eu já roubei o namorado de uma amiga.

11- rimos muito, ele ainda confidênciou que estava saindo de um casamento de 15 anos e no momento sofria muto por isso.

12- ao sair ele perguntou se eu ainda ficaria no interior do elevador.

13- Eu disse que sim (pois ainda faltavam ainda algumas subidas e descidas).

14- nos despedimos como amigos e cúmplices.

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